Lembram-se da campanha “Ponta Negra é minha praia”? Para quem não sabe ou não lembra, a ideia foi inicialmente vendida por publicitários (a campanha foi uma promoção de ponta negra de interesse mercadológico oriundo do ramo imobiliário pra valorizar alguns empreendimentos na área) e comprada por muita gente, inclusive por mim, um morador do bairro de Ponta Negra há 27 anos. Só posso dizer que, infelizmente, o nosso bairro não tem o que comemorar. Entendo a tentativa de recuperar o prestígio e a autoestima dos moradores, dos visitantes, dos frequentadores, dos amantes do bairro, mas é triste saber que, na verdade, nada mudou para melhor.
O Colunista Carlos disse recentemente em feliz declaração: “Aquela que tinha tudo para ser a nossa princesinha do mar, hoje, infelizmente não passa da nossa garotinha de programa do mar”. A prostituição continua, as drogas ainda rolam soltas, o brilho matutino do sol transforma-se noutro brilho durante a noite e, como diz a música da banda potiguar DuSouto, “De dia é Ponta Negra / de noite é Black Point.”
A campanha contagiou, valeu, mas mudar que é bom... É claro que não se muda uma situação construída ao longo de vários e vários anos com uma simples campanha. É triste saber que Ponta Negra é a nossa praia enquanto nada parece mudar. Nossa princesa continua sendo garota de programa e menininha das drogas
A praia de Ponta Negra oferece várias opções de lazer: na areia nós temos do bronze ao frescobol; na água temos opções que vão de um banho calmo no domingo ao surf. No calçadão temos alguns buracos e também, alguns esgotos a céu aberto.
Na verdade a Praia de Ponta Negra, hoje, está longe de ser novamente um ambiente familiar e não é só pela presença de turistas estrangeiros. Talvez seja pela ideia fixa na cabeça do natalense de que, hoje, somos estrangeiros em nossa própria praia.
Ponta Negra é também a praia de quem tem algum dinheiro pra gastar. Acabou-se a ideia de que a praia é um local democrático e barato. Hoje, um simples programa com a família em nossa praia pode tornar-se caríssimo. De cara, paga-se para estacionar em lugar público (e ái de você se pagar menos do que cinco reais para o flanelinha). Chegando à areia, ache um lugar com um pedaço de sol, que não seja repleto de guarda-sóis e cadeiras, que por sua vez estão ali para aluguel num preço bem “camarada”. Na areia não vamos comentar sobre os canais tão fétidos para não envergonhar a nossa quase vizinha Recife.
Por fim, tente ficar sossegado com os amigos na sua praia, sem que ninguém venha lhe perturbar, ou pedir uma esmola, ou vender algo como: rede, carrinho de comida, tatuagem, palhaçadas sociais, se você for uma figura conhecida na praia esse martírio pode se tornar ainda pior. Deficientes fazem, infelizmente, de sua dificuldade a sua profissão.
A única coisa “democrática” que existe em nossa praia é música. O repertório vai de Grafith com seus vários estilos, passa por Raul e fecha com músicas de plásticos (como forró e sertanejo universitário). Com sorte você também encontrará um carrinho tocando o famigerado funk carioca e também um pouco de axé baiano, cada dia mais apelativo.
Ponta Negra pode ser sim a minha praia, até porque, coração é terra que ninguém governa, mas precisamos fazer algo urgente, algo concreto. Precisamos cuidar para que ela simplesmente não deixe de ser uma praia.
@RodolfoAlves84 | Publicitário e Esp. em Gestão Pública
Nenhum comentário:
Postar um comentário