Ciro Marques - repórter
A prisão de Fabiano Carneiro da Cunha, 25 anos, conhecido como Pretinho, acusado de matar o bebê Rafael Nascimento, de apenas sete meses e balear outras cinco pessoas, não acabou e, tampouco, diminuiu o sentimento de insegurança para os moradores da Vila de Ponta Negra, na zona Sul de Natal. Familiares e amigos do acusado estão sendo ameaçados de morte por aquele que seria o rival de Pretinho na disputa pelo controle do tráfico de drogas na região.
Adriano Abreu
Moradores da rua Cabo Honório, na Vila de Ponta Negra, estão amedrontados com a violência gerada a partir da disputa do tráfico de drogas e temem que novas mortes ocorram por causa disso
“Não sabemos mais o que fazer. Estamos trancados dentro de casa, sem poder nem levar os filhos ao colégio. Inclusive, até nossas crianças estão sendo ameaçadas por eles”, acusou a dona de casa Lucila Maria Donato, moradora da rua Cabo Honório, e que diz ser apenas conhecida de Pretinho, visto que a sobrinha dela namorava com o acusado. Esse “eles” dito pela dona de casa seria referência à dupla Gilberto e Neguinho, que disputava com Pretinho o domínio do tráfico de drogas na Vila, conforme afirmou o delegado Luiz Lucena, titular da 15ª Delegacia de Polícia em Ponta Negra, no dia 29 de junho, dois dias depois da morte do bebê Rafael Nascimento. “O que provocou a morte do bebê foi justamente uma disputa entre dois grupos rivais que tentam comandar o crime na área”, declarou o delegado.
Com a prisão de Pretinho, Gilberto, 18, acusado de dois homicídios, assumiu o controle do tráfico. E ele, segundo alguns moradores, tem total liberdade na Vila. “Ele anda livremente por aqui, sempre armado e ninguém faz nada. A gente, por outro lado, tem medo de sair de casa. Gilberto faz o que quer, com quem quer”, denunciou Lucila Maria.
Entre os desmandos de Gilberto na região, segundo a dona de casa, estão as tentativas de homicídio contra o filho e o sobrinho dela, ambos de 17 anos, ocorridas na noite do último domingo. “Eles haviam saído para comprar pão e encontraram com Gilberto no meio do caminho. Gilberto mostrou a arma e disse que estava esperando por eles. Quando meu filho e meu sobrinho estavam voltando para casa, o bandido já estava esperando na residência vizinha e atirou três vezes contra os rapazes. Por sorte, nenhum dos tiros os acertou”, contou Lucila Maria.
Depois do incidente, a dona de casa, acompanhada da irmã e das duas vítimas foram até à Delegacia de Plantão da Zona Sul, junto com o acusado. No entanto, ninguém ficou preso. A DP não tinha condições de fazer o exame residuográfico (que atestaria sinais de pólvora nas mãos do suspeito) e a arma do crime também não foi encontrada. “Mandaram a gente ir à Delegacia de Ponta Negra para falar sobre o caso. O delegado Lucena está de férias até a quinta-feira e o chefe de investigação (nome preservado) falou para voltarmos no dia seguinte, com testemunhas que comprovassem o crime. No entanto, não consegui mobilizar ninguém para ir lá denunciar Gilberto”, contou Lucila Maria.
Em contato com a TRIBUNA DO NORTE na manhã de ontem, o chefe de investigação da Delegacia de Ponta Negra afirmou que ainda não recebeu da DP de Plantão o boletim de ocorrência da tentativa de homicídio. Tampouco, viu Lucila Maria novamente. “É fundamental testemunhas nesse caso, porque sem elas não tem como o juiz deferir um mandado de prisão. Agora, mesmo se ela não tenha conseguido mobilizar nenhuma das testemunhas para ir depor, gostaria que nos procurasse, visto que temos meios para intimar as pessoas para prestar depoimento”, explicou o chefe de investigação.
O apoio das testemunhas, segundo Lucila Maria, não é fácil. “Muita gente viu meu filho e meu sobrinho serem alvos dos tiros, mas ninguém quer se envolver. Ou tem medo ou simplesmente não quer mesmo. Vão esperar acontecer uma tragédia como foi a morte do bebê Rafael para poder tomar uma atitude. Se um dos tiros que esse Gilberto deu no meu filho acertasse outro rapaz? Uma criança, por exemplo?”, questionou ela.
Rivalidade entre os grupos começou em maio
Não é preciso ouvir Lucila Maria para saber como começaram a rivalidade e a disputa entre Pretinho e Gilberto na Vila de Ponta Negra. Qualquer uma das três crianças que acompanhavam a dona de casa no momento em que ela falava à TRIBUNA DO NORTE, sabiam como tudo começou. “Eles eram próximos, até Gilberto matar Edson em maio. Esse Edson era muito amigo de Pretinho”, afirmou uma das crianças.
Edson de Melo da Silva, 16 anos, foi morto na madrugada do dia 17 de maio deste ano, justamente, no dia do aniversário dele. O motivo da morte seria uma dívida de R$ 15 que ele teria com Gilberto. Na época, o crime ocorrido na rua 31 de março, também na Vila de Ponta Negra, não teve testemunhas e caiu no esquecimento. “Depois disso, Gilberto veio aqui na rua tentar matar a gente e Pretinho, mas não conseguiu”, contou um familiar do acusado de matar o bebê, que preferiu não se identificar.
“Na festa realizada aqui na Vila, no dia 24 de junho, Gilberto atirou várias vezes contra Pretinho”, contou o familiar. “A situação continuou difícil inclusive no dia da morte do bebê, no sábado (27). Eles vieram aqui e atiraram várias vezes, mas não conseguiram acertar Pretinho. Depois, ele foi até lá tirar satisfação, e foi aí onde houve toda a confusão e a morte do bebê”.
O familiar contou também que não foram apenas os tiros dados por Pretinho e seus companheiros que foram ouvidos na noite de sábado, na rua Morro do Careca, conhecida como “Treme-Terra”. “Gente de lá disse também que Gilberto estava no local e que também revidou. Por isso, não tem como saber se realmente foram os tiros de Pretinho que acertaram o bebê e as outras pessoas”.
Com a prisão de Pretinho, ocorrida na manhã do dia 23 de julho, o clima de insegurança cresceu na rua Cabo Honório. “Teve uma festa na rua semana passada, e eles falaram lá no microfone, para todo mundo, inclusive os policiais ouvirem: cade o pessoal da rua Cabo Honório? Não eram eles que mandavam? Agora a ‘boca’ da Treme-Terra é a maior de Ponta Negra”, afirmou o adolescente que teria sido vítima dos disparos dados por Gilberto. Sobre isso, sem qualquer pessoa que prestasse queixa, também nada foi feito. “Se Pretinho é o responsável pela morte do bebê, ele que pague. Está preso para isso. Nós não temos nada a ver. Só queremos viver nossa vida. O que posso fazer é evitar que meus filhos virem bandidos também. E se Deus quiser, isso não vai acontecer”, afirmou Lucila Maria.
Memória
O bebê de sete meses, Rafael Nascimento, foi baleado, assim como outras cinco pessoas depois de uma festinha de criança ocorrida na rua Treme-Terra, na Vila de Ponta Negra, na zona Sul da capital. A prisão de Fabiano Carneiro da Cunha ocorreu no dia 23. Além dele, foram detidos também Fábio Carneiro da Cunha, irmão de Fabiano, um menor de 16 anos (sobrinho de Fabiano), Adriano Carneiro da Cunha, conhecido como Fio (também irmão) e Maria de Fátima Carneiro Cunha (mãe). Todos foram encaminhados para a 15ª Delegacia de Polícia do bairro de Ponta Negra. Segundo a investigação da Delegacia de Ponta Negra, Fabiano e os companheiros teriam ido até à rua Treme-Terra para matar Gilberto, que já não se encontrava no local.
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