O Fantástico junto com o Instituo Akatu testou o grau de consciência dos brasileiros sobre o consumo responsável. A maioria aprova as compras mesmo sendo danosas à natureza.
Uma chance única de mudar de vida. Conheça empreendimentos de altíssimo padrão. São quatro quartos e 187 metros quadrados, é o imóvel dos seus sonhos dentro de um cartão-postal. Já imaginou chegar em casa e ter a Baía de Guanabara a seus pés, morando em pleno Pão de Açúcar? Por que ter vista para o mar na praia de Boa Viagem, no Recife, ou de Pitangueiras, no Guarujá, se você pode morar na areia? É só descer e dar um mergulho.
Isso sem falar das opções de ilhas artificiais: no meio da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, e no lago mais famoso do Distrito Federal. Uma construtora ousada está aterrissando em cinco cidades brasileiras para sacudir o mercado imobiliário de alto luxo. O preço varia entre R$ 2 e R$ 8 milhões.
Você se interessou? Está querendo comprar? Ou ficou revoltado com esse lançamento? “Eu acho isso um absurdo”, diz uma mulher. Pois saiba que isso não passa de um teste. O Instituto Akatu, uma organização não-governamental que divulga o consumo consciente, em parceria com o Fantástico, avaliou como as pessoas reagem a um projeto desses, que só traz prejuízo para o meio ambiente. O ator Gerson Ortega foi contratado para fazer o papel de vendedor.
“Um lançamento de edifício. Nós vamos estar preservando a praia com a construção de um deck que significa proteção para você e sua família”, ensaia o ator.
O projeto seguiu, em detalhes, o modelo dos grandes lançamentos: maquete, cartazes, banners e um estande completo. No Guarujá, teve até aviãozinho fazendo propaganda. O empreendimento, ali, era construir o prédio bem no meio da Praia de Pintangueiras, o que é proibido pela Constituição em qualquer ponto do litoral brasileiro.
“Como se derruba uma lei federal pra construir um prédio na praia? Eu gostaria que fosse verdade, porque eu compraria! Mas, isso aí, no meu ponto de vista, não vai acontecer nunca”, diz um homem que não sabia que estava sendo filmado.
“Se eu não tivesse condições de comprar, eu entraria na Justiça. Como é que você fecha a praia?”, fala a acompanhante do homem.
A situação foi a que mais chamou a atenção do publicitário André Laurentino, um dos criadores do teste. “Ela adoraria ter, mas o que a impediu não foi a consciência que isso vai detonar a natureza, foi ‘eu não tenho dinheiro’ então, eu vou detonar com essa festa aqui”, analisa.
No Guarujá, 59% das pessoas gostaram da ideia de construir o prédio na areia. “Vai ser muito chique para o Guarujá. Muito bom. Você sabe que o pessoal aqui tem dinheiro”, brincou uma mulher.
“Olha que legal”, fala uma senhora ao ver o projeto do prédio no estande.
Nove por cento das pessoas não deram opinião e só 31% foram contra o projeto.
“Acho um absurdo fecharem a praia. Porque a praia é um local público não é?”, defendeu uma jovem.
No Recife, o prédio também foi projetado para uma praia. Seria erguido nas areias de Boa Viagem, com direito à piscina com água natural e com proteção contra tubarões. “Pra que ter vista da praia, se a gente pode morar na praia?”, diz o ator que se passa por vendedor. E, como no Guarujá, a maioria – 61% – aprovou o empreendimento.
“No nordeste do Brasil, não temos um projeto de alto nível como esse que só encontramos nos Emirados como Dubai ou até mesmo Doha ou Barein. Como eu já estive por lá, eu acho interessante esse projeto“, argumenta o estudante Juscelino Getúlio.
“Eu acho que, realmente é muito arrojo. É muita ousadia”, fala um ‘cliente’. de Borba.
Dezessete por cento das pessoas não se manifestaram e apenas 22% criticaram a ideia. “Eu achei um absurdo completo. É privatização de área pública, do lazer público, do pouco lazer que ainda resta para a população pernambucana. Querem cobrar preços altíssimos para privatizar o mar”, comenta o estagiário de Direito Diogo dos Santos.
“Nunca vi um projeto em cima da areia. Não sei como a prefeitura, os órgãos ambientalistas permitiram uma construção dessa?”, questionou o veterinário Hilton Paranhos.
“Sou totalmente contra, se tiver um protesto, estou dentro”, defendeu a pedagoga Elaine Barconi.
“É isso que nós queremos mostrar: todo consumo tem impacto. Alguns são óbvios, como o caso do impacto de um apartamento em uma praia. Outros não são tão óbvios. Mas não existe nenhum ato de consumo de produto ou de serviço que não tenha impacto sobre a sociedade, sobre o meio ambiente, sobre a economia”, constata o presidente do Instituto Akatu, Helio da Matta.
Em Florianópolis, um estande montado em um shopping anunciava uma ilha artificial em plena Lagoa da Conceição, uma área de proteção ambiental.
“É proibido construir na lagoa, não é?”, disse um visitante no estande.
Quarenta e uma por cento das opiniões foram a favor da construção.
“Achei um espetáculo, fiquei deslumbrado com o que foi apresentado. Fiquei muito feliz e sou um forte candidato a adquirir uma unidade”, adiantou o publicitário Isaias Onofre.
“Com certeza, eu gostaria de morar em um local desses”, diz a consultora imobiliária Nara Varella.
A maioria preferiu o silêncio: 46% das pessoas não se posicionaram. E apenas 12% foram contra.
“Vou me informar para saber se já foi aprovado e chamar as pessoas que lida com o meio ambiente para lutar contra esse absurdo”, criticou o professor universitário José Gonçalves Medeiros.
“Quero saber quem vocês subornaram pra poder construir um prédio desse tamanho na Lagoa. Porque na Lagoa só pode quatro andares. Eles inventam e daqui a pouco vão construir aonde? No céu, né?”, fala a música Michele Mafra, ao vendedor no estande.
“O dia que um prédio desse tamanho for autorizado na Lagoa, eu vou embora da ilha. Eu nasci aqui, meu bisavô é daqui, minha família inteira é daqui e eu não moro mais nessa ilha. Porque é um absurdo quererem fazer uma Dubai em Florianópolis”, completa Michele.
“Ridículo, absurdo. Se não for uma pegadinha, hoje mesmo eu vou às autoridades competentes fazer um abaixo-assinado, porque ninguém vai deixar fazerem isso na Lagoa”, disse a música Camila Mafra
Ela está coberta de razão. José Ricardo Lira, presidente da comissão imobiliária da Ordem dos Advogados, explica o que o cidadão deve fazer se uma situação como essa acontecer de verdade.
“O caminho natural seria buscar a autoridade municipal. Ela é competente para embargar a obra. Tem um caminho alternativo que é de buscar o socorro, o apoio do Ministério Público. E finalmente, ele pode recorrer a uma associação civil que esteja constituída há mais de um ano e que tenha atuação concreta na área de meio ambiente, a qual poderá também ir a juízo na tentativa de embargar a obrar caso entenda que há ilegalidade na denúncia do cidadão”, fala o advogado.
Guarujá, Florianópolis e Recife aprovaram a ideia. Domingo que vem, o teste continua no Rio e em Brasília. Será que os cariocas vão querer morar no Pão de Açúcar? E os brasilienses, quantos gostariam de viver no Lago Paranoá? Clique e dê sua opinião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário